AS HEROÍNAS DE JR

09:23 Clementino Junior 0 Comments



Esta semana fui ao Espaço de Cinema, em Botafogo, assistir a mais um documentário que me chamou a atenção na programação: WOMENS ARE HEROES, primeiro trabalho cinematográfico, quase auto-documental, do badalado fotógrafo JR.
Há alguns anos ele e sua fundação viajam o mundo no projeto 28mm, onde através de uma câmera com esta lente, ele registra os olhares "a queima roupa" de pessoas ao longo do mundo, e neste documentário em especial ele enfocou as "mulheres heroinas" em áreas de risco ao longo do mundo.
O documentário se inicia no Morro da Providência, num panorama traumático após o assassinato (amplamente divulgado) de 3 jovens que foram levados para um morro da facção rival por soldados do exército que faziam a ocupação (o início da PACificação no RJ) naquela região.


O trabalho muitos viram exposto não só lá na fachada das casas das favelas, como num evento multimídia recente, onde ele ocupou a arquitetura dos Arcos da Lapa com os olhares de várias pessoas, plotadas. O trabalho de JR consiste em transferir como uma intervenção urbana e em proporções gigantescas os olhares, muitas vezes caretas, destas pessoas na paisagem local, como que numa inversão do conceito de publicidade, do rosto "bonito" (leia-se anglo-saxão), e coloca as pessoas mestiças e pobres, exibindo o tom de alegria que justifica que estes toquem suas vidas adiante.
Os recursos fotográficos extrapolaram para a parte "in motion" do documentário onde as entrevistas são entrecortadas e ilustradas por efeitos dinâmicos com a técnica de animação pixilation (minha predileta, onde se animam as pessoas ao invés de bonecos, parecida com o Stop motion), onde a câmera em disparos rápidos, viaja pela comunidade, entrando na casa e flagrando estas mulheres e seus filhos em afazeres cotidianos.


Da providência o fotógrafo (que na apresentação e no debate pós-sessão falou uma mistura de português, italiano e francês, mas compreensível graças a sua simpatia) desloca suas 28mm para o Cambodja, para a India, para a triplice fronteira entre Serra Leoa, Quenia e Sudão, e mostra diversas realidades, que óbvio, já foram mostradas em inúmeros jornalísticos e documentários, mas com a presença do trabalho dele, uma nova pauta surge e a reflexão sobre o porquê desta intervenção mostra muitas facetas particulares dos lugares e suas mulheres com seu desempenho naquelas sociedades.

Fotograficamente o filme tem momentos poéticos e memoráveis, pois os painéis que são colocados, na maioria das vezes com a ajuda da própria comunidade, tem uma vida curta, e tanto o tempo, como as questões sociais (numa cena o painel é vítima da demolição de uma edificação, após a demolição da moradia por parte das autoridades, e o rosto sendo coberto pela própria parede que lhe dá suporte é muito forte) agem sobre elas.

Para nossa sorte este documentário mantém viva esta bela iniciativa de JR.
Com isto esta mistura de documentário, making of e "cine-instalação" (foi feito em 35mm) preservam a voz e o processo que as fotos imortalizaram.

Detalhe: o trailer acima aparenta ser de um "corte" específico deste doc, pois muito do material ali apresentado não está na versão que assistimos no festival, que segundo o próprio JR, foi a "primeira projeção de um corte final" deste filme.
Algumas das personagens da sequência do Morro da Providência estavam na platéia, inclusive a menina que faz um discurso sobre a vida no morro que mexe com a platéia, e a fala da mãe é muito comovente.

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