ABOLIÇÃO

16:45 Clementino Junior 1 Comments


Assistir ao longa ABOLIÇÃO, reflexão de Zózimo Bulbul e seus contemporâneos do Movimento Negro dos anos 80 sobre o centenário da lei áurea, 21 anos depois, é estender estas reflexões a um plano não tão confortável como gostariamos que fosse.
Muita água correu nestas 2 décadas, num retrato feito em 88, ano que precedeu a eleição de Collor e uma sucessão de governos que levaram o Brasil numa montanha russa até um momento atual em que passamos do debate ao confronto, onde as cotas (que ainda não eram assunto naquele instante) já são combatidas por alguns formadores de opinião, e que as poucas conquistas conseguidas fora deste tema são ignorados e tratados com desdém.
Apesar da presença de intelectuais e militantes com uma crítica contundente anti-racismo, é interessante assistirmos as informações subliminares presentes neste doc.
Um lugar comum nos documentários envolvendo o povo pobre/preto é notar como as crianças estão sempre vestidas (e continuam) com referências de cultura pop americana. Eu mesmo não lembrava de ver camisas da Hello Kit na época, mas numa favela elas estão presentes, assim como a Xuxa como modelo de beleza padrão infantil (na época ainda usava "Maria-chiquinhas") numa TV em segundo plano.A AIDS também estava muito presente, com toda a carga de marginalização que já trazia na época.
Apesar destes pequenos dentre vários sustos que um cara de 40 anos como eu, ou mais velho possa ter, o dado mais interessante, e que justifica em algum aspecto a longa duração (bem longa, vá ao banheiro antes) são os depoimentos contundentes de militantes bem instrumentalizados, seja pela vivência ou pela posição acadêmica, sem cortes, e bem organizados para citar históricamente o que o movimento organizado pensava de sua situação.
Li recentemente um artigo escrito no momento de sua exibição (com prêmio) no Festival de Brasília, onde se falava sobre a opção de ter dezenas de depoentes e com falas longas, mas pensemos de forma clara: em um momento em que os diretores negros tratavam de outros assuntos, e alguns poucos conseguiam tratar da questão do negro de forma mais sutil, como seria o critério para jogar fora tantos bons depoimentos num momento em que precisávamos de voz.
Neste ponto a função de Zózimo Bulbul foi fundamental, pois conseguiu concentrar em um documentário grande parte das cabeças pensantes, de todas as cores mas predominantemente negros, e tentando passar um panorama de 100 anos de história, de lutas e ações em 150 minutos... como falar de João Cândido e Solano Trindade em um minuto e meio? Como falar do Teatro Experimental do Negro e de Abdias do Nascimento em um minuto e meio?
Será que na época ele teria apoio de alguma emissora para transformar esta enorme reflexão e a vasta pesquisa em mini-série documental para TV?
Ao assistirmos a esta obra fundamental, independente da opinião política ou estética, temos que avaliar fundamentalmente esta época onde ela foi produzida, e a importância com a qual ela pontuou o centenário da escravidão e ainda hoje se mantém pertinente enquanto referência do Cinema da Diáspora Africana no Brasil.

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Um comentário:

  1. Oi Clems, tudo velho num ano novo? Parece que certas coisas teimam em não mudar ao passo que outras retrocedem ou mudam pra pior. Nossos casos das discriminações e dos preconceitos rolam soltos pelo ar. não sei se vc viu o fato lastimável do Boris Kasói que por um vasamento de áudio ridicularizou dois Garis que "Desejavam feliz ano novo" num vt da Band, e olha que os garis eram brancos imagina se fossem negros como teriam sido as ofensas. Vida que segue! Infelizmente! apareça no meu Blog. Vou adorar sua visita! Bjs!

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