Paris C’est Joli
Após duas semanas sem nada escrever, trago de volta comentários sobre mais 2 filmes da safra francófona de “clássicos do cinema africano restaurados” que se encontram na Cinemateca do consulado francês, no RJ, assim como os filmes do Moustapha Alassane que citei. Aproveitando a pauta, chamo a atenção da dificuldade e quase movimento de guerrilha que é conseguir filmes do continente para exibição por aqui, já que os acervos dos festivais internacionais que os recebem têm destino igual ao das fitas de BBB (galpões afastados ou lixões) e com isto obras inacessíveis comercialmente se perdem. No “Cinefrance” encontramos algumas obras que foram co-produzidas por franceses, ou como estes filmes dos quais falarei, produzidas na frança por cineastas de ex-colônias francesas do continente africano, ou seja, que tendem a ter um perfil próximo ao de cineastas e filmes franceses contemporâneos a suas realizações.
O DVD vem com três curta-metragens, um é o Afrique Sur Seine, um documentário caretão de uma certa ironia, mas com toda uma linguagem de documentário francês, onde os cineastas De Mamadou Sarr e Paulin Vieyra tentam encontrar a identidade africana na Paris de 1957 (mas não me aprofundarei neste por discordar da forma final do filme em relação a proposta).
Em seguida surgem as duas obras das quais pretendo fazer um paralelo...
Começando por Paris C’est Joli, uma obra realizada em 1974, que mostra claramente as regras do jogo para um recém chegado imigrante ilegal
Por outro lado o filme Les Princes Noirs de Saint Germain de Pres (Os Príncipes Negros de Saint Germain de Pres, finalizado em 1975) já mostra o “jogo de cintura” de alguns destes imigrantes, que tiram proveito da busca de mulheres francesas de classe alta, brancas, curiosas pelo exotismo destes imigrantes, e se passam por jovens de famílias reais africanas para conquistá-las e por vezes, ser sustentados por elas. Estes príncipes negros representam, mesmo que de forma marginal, uma resposta ao que é apresentado no filme anterior: os imigrantes dominando o jogo social da “babel” na qual Paris, assim como todas as capitais européias, se tornou após o fim do regime colonial no continente africano. Uma cena hilária é quando duas jovens parisienses conversam sobre o “príncipe” que namorava uma delas, e a outra descreve: “...ele é de uma família nobre, não lembro bem o nome, e tem uma pulseira única, feita especialmente para ele”, e esta fala vem em off enquanto o “príncipe” cumprimenta outro “integrante de família real” na entrada do mesmo bar com um toque de punhos, e se percebe que ambos tem uma pulseira igual.
Estes filmes trazem elementos interessantes além da questão da África francófona: eles mostram a Paris dos anos 70, como a moda daquele tempo se desenvolveu por lá. Igualmente é interessante ver, o que já se retratava
Falemos agora dos realizadores das 2 obras setentistas: Inoussa Ousseini e Ben Diogaye Beye.
Inoussa Ousseini, assim como Moustapha Alassane, é cria de Jean Rouch, o engenheiro de obras que se tornou, graças a uma câmera
Já o senegalês Ben Diogaye Beye teve uma produção menos prolífera que Inoussa (que ainda produziu outros filmes nos anos 70 e tele-filmes nos 80s) mas tem obras datadas até 2004, como o longa Um Amor de Criança (Un Amour d’Enfant), que tem corrido vários festivais recentes. Ele também é autor, contemporâneo do grande Ousmane Sembene, e inclusive escreveu o roteiro original de “Camp de Thiaroye”, uma das primeiras obras de Sembene, que o filmou anos depois.
olá, Clem
ResponderExcluirvisitando seu blog e aprendendo um pouco sobre cinema "franco-africano" com você. Muito interessante!
grande abraço.